terça-feira, 1 de maio de 2012

44- Sozinha

PDV da Karol

    Era uma sexta-feira chuvosa. Antes de sair para trabalhar, passei na casa de Nath. Lá também estavam Ana e Bianca, tomando café. Me juntei a elas e deixei o script de um filme que eu estava atuando em cima de umas revistas na sala.
-Bom dia – eu disse
-Bom dia de volta – disse Ana, tomando café
-Onde está a Nath?
-Foi levar umas revistas para queimar – Bianca respondeu
    Revistas. Script. Saí correndo em direção à varanda, mas tudo o que havia era uma pilha de papel em chamas.
-Nathalia, não! – gritei
-O que foi? Você sabe que taco fogo na concorrência – ela disse
-Ah, ótimo! Estou ferrada – eu disse, encarando a pilha de cinzas
    Fui para os estúdios para as gravações, mesmo me sentindo culpada. O chefe tinha me deixado responsável pelo script, e eu tinha deixado minha amiga queimá-lo.
    Além de ter chegado encharcada, o chefe me deu uma bronca enorme e disse que eu teria de passar o dia – e a noite – inteiro no estúdio, refazendo o script.
-O quê? A noite também? – exclamei
-Não discuta. Foi você que queimou o script. Quero ele pra amanhã – disse o chefe
    Como ele mandou, fiquei o dia inteiro no prédio, escrevendo o script. Chegou a noite, 22h, e eu só tinha feito 3 páginas – de um script de 400.
    Enquanto escrevia, ouvi um barulho estrondoso de um trovão. Logo em seguida, todas as luzes se apagaram. Um apagão.
-Ah, que ótimo! – exclamei – O que mais me falta acontecer?
    Fui do 3º para o 5º andar, onde ficava o escritório, à procura de uma lanterna. Achei uma dentro de um armário no fim do corredor. Então, ouvi um barulho vindo do 4º andar. Barulho de objetos sendo revirados.
-O que foi isso? – eu disse, assustada
    Só pra constar, eu não sou a pessoa mais confiante do mundo. De todo o pessoal, sou a única humana. A única sem nenhum dom. A única que não pode se proteger.
    Peguei meu celular e procurei o nome de Matheus nos contatos, mas lembrei que ele estava em turnê com a banda. Tentei ligar pra polícia mesmo, mas o celular ficou sem sinal. Quanta sorte!
    Então, ouvi barulho de passos próximo à porta do escritório. Me escondi atrás de uma mesa e fiquei observando com o canto do olho. 5 homens fortões e com roupa de couro – como rockeiros dos anos 80 – entraram no escritório. De acordo com as histórias de Nath e Matheus, aqueles eram a Gangue F. Oh oh.
-Tem certeza de que ele está aqui? – disse ele
-Sim. Eu li em um jornal que a turnê só iria começar daqui a uma semana – o líder respondeu
-Mas ele não trabalha aqui. Quem trabalha aqui é a normal – outro comentou
-Exatamente! Vai ser mais fácil pra capturá-la e fazê-la de isca pra pegar o rockeiro idiota – disse o líder
    “A normal”? Nem pra ser alvo eu servia. Eles queriam Matheus, não eu.
    Olhei para o fim do corredor. Havia uma saída de emergência. Calmamente, engatinhei até a porta e a abri. Quando fui fechá-la, a porta rangeu bem alto.
-Ela está ali! – o líder da Gangue gritou
    Rapidamente, me levantei e desci as escadas correndo. Um deles lançou um jato de ácido na porta e nas escadas. Cheguei a uma porta para o 4º andar, mas a porta não abria.
-Qual foi! – eu disse, tentando abrir a porta
    Reparei que eles estavam a menos de 10 passos de mim e voltei a correr. Quando fui descer a outra escadaria, tropecei em um degrau e rolei pela escada. Senti uma pontada nas costas ao acertar a parede.
    Por sorte, no 3º andar a porta estava destrancada. Abri a porta e me tranquei no camarim de um dos artistas do filme.
    Houve um silêncio durante uns 5 minutos, mas aí um deles começou a socar a porta do camarim.
-A porta está trancada. Ela está aqui – disse ele, do outro lado da porta
    Procurei por uma saída, mas não havia nada. Ou talvez houvesse. Perto do armário, havia um extintor de incêndio.
    Assim que a Gangue F abriu a porta, peguei o extintor e golpeei a cabeça de dois deles. O líder me segurou com suas grandes mãos, mas eu disparei o gás do extintor em seu rosto e ele me soltou.
    Ainda restaram dois atrás de mim. Um lançou uma pulsação contra mim, mas eu desviei, fazendo com que a pulsação acertasse a porta do elevador e o abrisse. Corri em direção ao fosso, como se fosse pular, mas de última hora me encolhi na parede e os dois que me seguiam caíram dentro do fosso. Quando olhei de novo, eles estavam subindo pelo fio do elevador. Então, fui até uma parede com um machado em um vidro escrito “EMERGÊNCIA”, quebrei o vidro e usei o machado pra cortar o fio do elevador, fazendo os dois despencarem e serem esmagados pelo elevador.
    Dois a menos. Faltavam três.
    Enquanto os três restantes ainda estavam desacordados, fui até o térreo, onde ficava a recepção – e os telefones. Assim que cheguei a um telefone, liguei para a polícia.
-Aqui é Karoline Santos. Preciso de ajuda. Mandem suas viaturas para a Av. Empire, 110. A Gangue F está aqui – eu disse
-Mas você não faz parte dos “Salvadores da Terra”? – disse a policial – Ah, não. Você é a que não tem poderes!
-Isso. “A que não tem poderes” – cuspi as palavras – Venham rápido
    A policial avisou que as viaturas estavam a caminho. Então, ouvi os passos dos três restantes entrando na recepção. Rastejei até a porta de saída, mas estava trancada. Voltei até o balcão da recepção e joguei um grampeador na direção oposta, o que atraiu os três membros da Gangue F até lá. Isso me deu tempo para que eu quebrasse a porta com o machado. Assim que saí, entrei em meu carro, que estava estacionado em frente ao edifício.
-Olha ela ali – o líder gritou
    Eles três vieram em minha direção, então eu fui até eles com o carro e os atropelei. Aí as viaturas chegaram.
-Qual é o problema? – disse o policial
-Esquece! Agora não preciso mais de ajuda – eu disse, irritada
***
    No dia seguinte, o chefe me chamou.
-Você sabe que o prédio ficou uma bagunça, não sabe? – disse o chefe
-Sim – respondi, seriamente
-E quanto ao script?
-Já está pronto. Não consegui dormir essa noite, então escrevi. Mas escrevi uma história nova
-E como ela é?
-A história é sobre uma garota rejeitada por ser diferente, uma ovelha negra na escola. Ela cresce e se torna uma mulher muito bem-sucedida e supera as pessoas que a rejeitaram
-Ótimo. Gostei da história. Acho que poderemos mudar o script. Parabéns! – disse o chefe
    Isso se chama instinto de sobrevivência. Com ele, uma pequena e indefesa gatinha pode se transformar numa grande e feroz tigresa.
    Nunca se menospreze por ser diferente. Ser diferente é bom. Isso te torna único, especial. Agradeça a Deus por ser diferente. Esse sim, é o maior dom de que você pode precisar.

Fim do PDV da Karol

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