sexta-feira, 27 de abril de 2012

41- Juiz, Júri e Réu


-Começa agora o julgamento dos réus Matheus Rocha, Jessica Williams, Nathalia Silva, Lucas Costa, Allanis Rodrigues, Ana Carolina, Isabela Lisboa, Bianca Tavares e Karoline Santos. Peço que o tribunal fique em silêncio – disse a Juíza
    Exatamente 1 hora após o parto, a Juíza mandou mais soldados atrás de nós. Uma tropa muito maior do que a que eu e Katheryn vimos na floresta. Os soldados nos levaram até à Corte, para que fôssemos julgados. Aparentemente, realizar feitiços proibidos é um crime grave.
    Jessica e Jimmy foram deixados em uma sala especializada, com médicos. Mesmo assim, vigiada por guardas.
    A Dimensão toda foi mobilizada. Era a primeira vez em séculos que alguém ia contra o Conselho. Haviam pessoas com placas dizendo “Pena de morte JÁ!”. Foi tudo tão rápido que nem pudemos contratar um advogado.
-Parece que o povo está contra a gente – sussurrei para Lucas
-Jura? Achei que fosse um jeito simpático de dizer “gostamos de vocês” – ele disse, sarcasticamente
-Como a gente vai se safar dessa? – eu disse – Não temos um advogado, a população está contra a gente, e aposto que o júri também
-Espera. Acho que sei quem pode ser nossa advogada – disse Karol
-Quem? – Isa perguntou
-Nathalia. Ela é formada em direito, certo? – ela respondeu
    Nath não disse nada.
-Nath? – Bianca chamou sua atenção
-Ah... É que na verdade eu passei raspando – Nath respondeu – Não dá pra fazer faculdade de publicidade, biologia e direito, e ser ótima nas 3 áreas
-Ah, ótimo. É hoje que vou ser presa – disse Ana, batendo a cabeça na bancada
    Com isso, Nath levantou a mão para chamar a atenção da Juíza.
-Ei! Moça! Tia Juíza! – ela gritou
Meritíssima – a Juíza a corrigiu
-Ok, ok, ok, Meritíssima – Nath fez questão de enfatizar o termo – Então... Já que esses pobres coitados aqui não tem uma advogada, pensei que eu poderia fazer esse favor
    “Pobres coitados”? Depois dessa, ser preso não parecia nada.
-Você está sendo julgada. Não pode realizar a defesa – disse a Juíza
-Pelo amor de Deus! Olha só essa situação patética: estamos tão ferrados que nem temos uma defesa! Mais da metade da população está contra a gente. Pelo menos temos direito a defesa, né? – Nath argumentou
    Não sei se ficava orgulhoso pelo jeito ardiloso com o qual ela argumentava, ou se me sentia ofendido pela parte do “ferrados”.
    Depois de alguns minutos pensando, a Juíza decidiu:
-Concedido,. Nathalia Silva será a advogada dos réus – ela disse
-Isso! – Nath gritou
    A Juíza lançou um olhar de reprovação para ela.
-Desculpa, tia. Quer dizer, dona. Quer dizer, Meritíssima – Nath se corrigiu
    Parecendo estar arrependida, a Juíza revirou os olhos. Em seguida, chamou Allanis para depor. Quando Allanis foi chamada, um grupo de protestantes a vaiou. A Juíza os mandou calar a boca.
-Srta. Rodrigues, promete dizer a verdade, apenas a verdade? – disse a Juíza
-Prometo – Allanis respondeu
    Um membro do júri levantou a mão, para perguntar à Allanis. A Juíza lhe deu permissão.
-É verdade que você e seus amigos já tinham arquitetado um plano ardiloso para furar as leis da Dimensão? – disse um membro do júri
-“Arquitetado um plano ardiloso”? – disse Allanis, ofendida – Pensa que somos alguma quadrilha de serial killers? Olha só, seu filho da....
-Srta. Rodrigues! – a Juíza exclamou
    Allanis revirou os olhos e suspirou, irritada. Ela fechou os olhos por alguns segundos para se acalmar, e respondeu a pergunta novamente:
-Não, isso não é verdade
    Pelo seu tom de voz dava pra ver que ela estava se controlando bastante.
    Outro membro do júri pediu para perguntar à Allanis.
-Vocês se sentiram orgulhosos por conseguirem desrespeitar as leis? – perguntou
-Protesto! – Nath exclamou
-Negado – disse a Juíza – Srta. Rodrigues, responda a pergunta
-Orgulhosos? Não. Aliviados? Sem dúvida nenhuma – Allanis respondeu – Já tínhamos perdido muitas pessoas, não podíamos perder outra
-Mas que ultraje! Vejam isso: ela foi cúmplice em um crime e nem mesmo mostra sinais de remorso! – disse o cara que fez a pergunta
-Senhor, ponha-se em seu lugar. Cabe a mim julgar, não ao senhor – disse a Juíza, batendo o martelo
-Srta. Rodrigues, pode se sentar. Chamo agora Matheus Rocha
     Allanis voltou ao seu lugar, enquanto eu fui depor. Mais vaias. Eles faziam isso de propósito. Queriam ver a gente sair do controle, mas não sabiam que éramos espertos o suficiente para não cair na deles.
    Fiz o juramento, assim como Allanis. Logo após, o mesmo cara que fez as perguntas pra ele veio me perguntar também.
-Você sabia que o feitiço era proibido e mesmo assim o realizou. Isso significa que foi proposital. Certo?
-Protesto! Meu cliente não teve a confirmação da Meritíssima – disse Nath
-Isso não é verdade. Eu confirmei, e a resposta foi clara: “não” – disse a Juíza – Está mentindo para garantir a absolvição do seu cliente?
    O tribunal ficou em silêncio. Os olhos de Nath se arregalaram e vi lágrimas surgirem. Ela realmente queria fazer tudo certo, mas não deu. Houve um deslize. Apesar de tudo, havíamos cometido um crime. Seria difícil simplesmente nos inocentar.
    Disperso no meio daquela situação, notei que Lucas estava falando ao telefone com alguém. Ele se abaixou atrás da mesa dos réus para que a Juíza não o visse. Assim que a conversa acabou, ele se levantou. Havia um sorriso enorme em seu rosto.
-Caso encerrado – disse a Juíza – Eu considero os réus...
-Espera! – Lucas gritou – Acabei de receber uma ligação da minha esposa. Sabe o que ela disse? Nossa filha acabou de sair do coma. Não sei se todos aqui estão cientes, mas o mesmo monstro que fez isso à minha filha, quase matou a namorada do meu amigo ali. Era a única opção dele e, por amor, ele usou essa única opção. E se fosse com alguém que vocês amam? Aposto que fariam o mesmo. Mas fazem questão de se dizerem politicamente corretos. Palmas para a hipocrisia de vocês. Isso me enoja. Vocês me enojam. Por um momento, parem de ser tão falsos e hipócritas e ponham-se no lugar dele. Se, mesmo assim, quiserem nos prender, tudo bem. Mas iremos com a consciência limpa, porque temos muito mais dignidade do que todos vocês juntos
    O tribunal ficou em silêncio por alguns minutos, chocados com o discurso de Lucas. Então, a Juíza finalmente se pronunciou:
-Eu considero os réus... inocentes
    Todo o pessoal comemorou de alegria. Eu e Lucas nos cumprimentamos com um abraço.
-Pronto pra ir? – perguntei
-Sim, sim! De preferência, pra nunca mais voltar – ele disse, com um sorriso
***
    Lucas foi ao hospital assim que saímos da Dimensão Mágica. Antes de irmos lá também, passamos numa loja e compramos inúmeros balões, cartazes de “bem vinda de volta” e bichinhos de pelúcia.
    Assim que chegamos ao quarto de hospital, vimos Lucas e Julie super empolgados, conversando com a filha.
-Olha só quem acordou! – disse Nath, trazendo o enorme urso que comprou para Jenny
-“Brigada”, tia Nath – disse Jenny, ainda com a voz um pouco fraca
    Nath deu um beijo na testa de Jenny e Marcelo entregou o presente pra ela.
-Adivinha só, Jenny. Você acabou de ganhar um priminho – disse Jessica
-Isso mesmo, diga oi pro Jimmy – eu disse
-Ele é tão pequeno! – Jenny exclamou, um pouco surpresa
    Demos uma risada com o comentário de Jenny.
-Vocês são demais, pessoal – disse Lucas
-Estamos sempre juntos. Pra tudo – disse Isa
    Pela primeira vez em um bom tempo, não tínhamos preocupações. Era apenas comemoração, um momento de descontração. Pela primeira vez em um bom tempo, tínhamos paz.

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