domingo, 29 de abril de 2012

43- Bonnie e Clyde

PDV do Lucas

    O dia estava ensolarado, típico de Los Angeles. Mesmo assim, eu estava dentro de casa, lavando louça. Vida de gente rica não é tão fácil.
    Julie apareceu na porta da cozinha, vestindo uma camisola com estampa de onça.
-O que achou? Eu mesma que desenhei – ela disse
-Eu acho... que você fica melhor sem ela – eu disse, com um sorriso
    Fechei a torneira da pia e fui até Julie. Começamos a nos beijar e eu retirei a alça da sua camisola.
-Espera! E Jenny? – disse Julie, me interrompendo
-Ela está na escola, só vai chegar daqui a 2 horas – eu disse, enquanto beijava a nuca de Julie
    Assim que eu disse isso, ouvi a porta se abrir e Jenny entrar em casa. Rapidamente, Julie arrumou sua camisola e eu voltei para a louça.
-Cheguei! – disse Jenny – Hoje liberam a gente mais cedo
-É, nós vimos – disse Julie – Quer me ajudar com os outros vestidos? Você poderia pintar os desenhos, tem jeito pra designer
-Pode deixar – disse Jenny, acompanhando a mãe até o escritório
    Como eu disse, vida de gente rica não é tão fácil.
    Mais tarde, enquanto eu assistia TV, tocaram a campainha. Assim que atendi a porta, fiquei paralisado. Era como se um fantasma estivesse à minha frente.
-Alessandra? – eu disse, surpreso
-Olá, quanto tempo! – ela deu um sorriso
    Alessandra se aproximou para me abraçar, mas eu me afastei. Há 10 anos atrás, Alessandra e eu tivemos um caso. Ela havia se aproveitado de mim e, desde então, nunca mais eu a tinha visto. Até aquele momento.
-O que... O que faz aqui? – eu disse, ainda bastante confuso
-É que eu queria te apresentar uma pessoa – ela disse
    Um menino – que aparentava ter 10 anos – se juntou a ela. Arregalei os olhos ao vê-lo.
-Lucas, esse é Felipe, seu filho – disse Alessandra
***
    Sem saber o que fazer, falei para Alessandra que conversaríamos depois. Quando voltei para dentro de casa, Julie estava à minha espera.
-Quem era aquela? Era uma amiga? – ela perguntou
-Não exatamente. Mais do que isso – eu disse, evitando contato visual
-Uma namorada?
-Um caso. E, segundo ela... Desse “caso” surgiu um filho
     Esperei que Julie pulasse em cima de mim e começasse a me enforcar. Mas ela continuou calma. Assustadoramente calma.
-Não é verdade, é? – Julie perguntou
-Bem, o menino tem 10 anos... As datas batem
    Agora sim. Se estivéssemos em um desenho animado, ela estaria soltando fumaça pelos ouvidos. Ela me fuzilava com o olhar.
-Eu te contei sobre todos os meus ex. Você conhece todos eles. Mas você não me contou sobre essa aí – disse Julie – Você já sabia sobre esse filho?
-Não! Eu juro que não – respondi
-Então porque nunca me falou sobre ela? Sente algo por ela?
-É complicado
-Fora daqui. Não quero te ver nessa casa. Hoje não – Julie ordenou
***
     Fui até a casa de Matheus para pedir conselhos, mas ele estava fora do país, em turnê com os PsyckoManiacs. A opção restante era conversar com Allanis e Isa, que estavam em casa.
-Você nunca contou à Julie sobre essa mulher? Como você é burro! – Isa exclamou
-Que bom que o filho não é seu, né? – disse Allanis
-Bom... – tentei despistar
-Nãããão! – Allanis exclamou, surpresa –Achei que Julie tinha sido sua primeira
-O filho é mesmo seu? – Isa perguntou
-Eu... Eu não sei – respondi
    Allanis e Isa reviraram os olhos. Elas estavam certas: como fui burro!
    Antes que pudéssemos terminar a conversa, meu pager bipou. Eu precisava ir ao estúdio, para gravar um filme no qual eu estava participando. Mesmo sem vontade, fui para as gravações. Não havia nada pra fazer mesmo.
    Eu era o protagonista do filme, junto a Mark Stepp, um ator idoso, de uns 80 e poucos anos, muito famoso em Hollywood. Aquele era seu último filme, e a mídia estava dando bastante destaque ao fato de dois grandes atores de Hollywood estarem atuando juntos.
    Mark percebeu que eu estava distraído nas gravações e me chamou para conversar. Então, expliquei a ele o que estava acontecendo, e ele começou a contar uma história.
-Há muito tempo atrás, durante minha juventude – Mark começou a contar – a II Guerra Mundial estava atingindo seu auge, e muitos jovens estavam sendo recrutados pelo exército. Eu e John, meu melhor amigo nos alistamos e conseguimos entrar pra Guerra. Na Guerra, não há muitas pessoas em que você possa confiar. O único em quem eu confiava era John. Conforme a Guerra avançava, nossa amizade apenas se fortalecia. Até que um dia aquilo se tornou mais do que amizade.
    Mark parou por uns segundos, respirou fundo e continuou a história.
-Tínhamos ido à cabana de medicamentos para procurar por curativos – ele prosseguiu com a história – Mas antes de pegar os curativos... Eu o beijei. Ele se assustou de início, mas logo ele retribuiu. E foi ali que fizemos amor pela primeira vez. Continuamos com nosso relacionamento secreto até que John sugeriu contar para todos sobre a nossa relação. Eu recusei, afinal tínhamos uma reputação a manter. Nós brigamos. Brigamos feio. E, naquela noite, ele foi chamado para uma missão... e não voltou. E eu nem pude dizer um último “eu te amo”
    Fiquei mudo por um instante. Aquela realmente era uma história triste. A pessoa que ele amava partiu, sem ele sequer poder dizer adeus.
-Não me venha com “sinto muito”, me poupe disso – disse Mark – A questão é: você e Julie são o casal perfeito. Não deixe que nada abale isso. Agora vá lá e acabe com essa Alessandra. Você já fez o teste de DNA, certo?
    Mudo novamente. Como foi que esquecei de fazer o teste de DNA? Agradeci a Mark e liguei para Alessandra, pedindo que ela me encontrasse em um bar perto dali. Quando cheguei no bar, tocava “’03 Bonnie and Clyde” do Jay-Z com a Beyoncé.
-Lembra? Essa era a nossa música – disse Alessandra – Diziam que éramos uma dupla de “mal-feitores”
-Chega de conversa-fiada – eu disse, rispidamente – Eu quero fazer um teste de DNA. Se aquele garoto é mesmo meu filho, se você estiver falando a verdade, não vai se importar em fazer um mero teste, não é?
-Hã... Ok! Ok! Ele não é seu filho – ela cedeu – Felipe é meu sobrinho. Eu estava precisando de dinheiro e achei que pudesse dar certo
    Alessandra se aproximou, tentando me beijar, mas eu levantei da cadeira.
-Por favor, Lucas! Me diz o que se passa na sua cabeça – disse Alessandra
-Sabe o que se passa em minha cabeça? Quer mesmo saber? Lá vai: em minha cabeça, vejo você decapitada, enforcada, estripada, esquartejada. Vejo você, morta das piores maneiras possíveis. Vá pro inferno! Volte pro lugar de onde você veio
    E então, deixei o bar e voltei pra minha casa
***
    Quando cheguei em casa, toquei a campainha. Julie não me deixou entrar. Passei para a forma de água e rastejei por debaixo da porta.
-Eu falei pra você não entrar – Julie resmungou
-O filho não é meu. Alessandra estava mentindo para ganhar dinheiro. Ela veio do Brasil para Los Angeles por isso – eu disse
-O problema não era o filho. Você nunca me contou sobre essa Alessandra. Não devíamos guardar segredos. Esse foi um dos votos do nosso casamento – disse Julie
-Ok... Há 10 anos atrás, eu e Alessandra fomos a uma festa com um grupo da faculdade. Estudávamos juntos. Ela ficou bêbada, uma coisa levou a outra... Mas, na semana seguinte, descobri que era tudo uma aposta dela com as amigas
    Julie levou a mão à boca, surpresa com o rumo da história. Ela veio me abraçar, mas antes peguei um CD e coloquei no rádio. A música era “Te Lo Agradezco, Pero No”, do Alejandro Sanz com a Shakira. Dei a mão a Julie e começamos a dançar abraçados.
-Essa era a música que tocava quando nos conhecemos – sussurrei no ouvido de Julie enquanto dançávamos – Dizemos para o pessoal que nos conhecemos quando esbarramos nosso material. Que história besta! – Julie sorriu – Quando eu estava naquele bar, eu tinha acabado de descobrir sobre a aposta. E aí, você apareceu, naquele vestido vermelho, hm... Sabia que vermelho virou minha cor favorita? – brinquei – A primeira vez que entrei num bar. Eu não sabia que anjos iam a bares, mas você apareceu. Su cuerpo es perfecto. Sus ojos son perfectos. Todo en ti es perfecto. Tú eres el amor de mi vida
-Eu te amo – disse Julie
-Eu te amo mais – dei um sorriso
    O pior dia da minha vida fez com que eu lembrasse do melhor. Não são todos que encontram o amor da sua vida em um bar.

Fim do PDV do Lucas

sábado, 28 de abril de 2012

42- Duas Caras

3 meses depois...

    Se passaram 3 meses desde o julgamento do pessoal e o nascimento de Jimmy. Desde então, nenhum sinal de Leandro. Ele sumiu depois de atacar Jessica, e não voltou mais.
    Eu, os PsyckoManiacs e Jessica estávamos na Espanha, com a turnê da banda. Jessica seria a convidada nos duetos de “Princess of China” e “Seeking for Your Bright Smile, Pt. 2”, além das músicas dela em que eu era o convidado.
    Levamos Jimmy também, para que ele visse como é um show da banda do pai.
    A turnê era do novo CD dos PsyckoManiacs, que teve muitas parcerias, por isso os shows teriam muitas participações especiais.
*Tracklist do CD* (Todas as músicas abaixo são ficcionais)

1- Crush Your Enemies (feat. David Draiman & Dan Donegan)
2- The Last Look, The Last Day (feat. M. Shadows & Zacky Vengeance)
3- Death Waits Us (feat. Bruce Dickinson)
4- The New Moon (feat. Amy Lee)
5- Negligent (feat. Corey Taylor & Mick Thomson)
6- Weed (feat. Serj Takian & Daron Malankian)
7- Goin’ Crazy (feat. Chester Bennington & Mike Shinoda)
8- Seeking Your Bright Smile, Pt. 1 (feat. Christopher Volpi & Andrea Larosa)
9- All That Matters (feat. Beyoncé)
10- Seeking Your Bright Smile, Pt. 2 (feat. Jessica Williams)

    Muitos fãs questionaram o dueto com Beyoncé, mas queríamos uma cantora pop em uma das faixas, assim como quando o Slash e a Rihanna gravaram juntos.
    Era a abertura do show, e iríamos apresentar “Goin’ Crazy”, com o Chester Bennington e o Mike Shinoda, do Linkin Park.
    Depois de umas 5 músicas, demos uma pausa e fomos até o camarim, onde Jessica estava assistindo o show, com Jimmy.
-Você não sabe! Jimmy bateu palma quando vocês cantaram com Bruce Dickinson! – disse Jessica, com um sorriso enorme
-Jura? Ele puxou ao pai! – eu disse, pegando Jimmy no colo
-E à mãe também. Eu tinha uma queda pelo Bruce quando eu tinha 10 anos – ela disse
    Olhei para ela com expressão de susto.
-Quando eu tinha 10 anos! – ela enfatizou
    Jessica me deu um beijo e deixou escapar uma risadinha. Os caras da banda estavam nos olhando com expressão de tédio.
-Vocês são nojentos – disse Wallace
-Deixa ele. Está triste porque é virgem – eu disse à Jessica
    A secretária passou na porta do camarim para avisar que voltaríamos ao palco em 10 minutos. A próxima apresentação seria com Corey Taylor e Mick Thomson, do Slipknot.
    Subimos ao palco para cantar e, quando eu Corey estávamos na bridge, Chrono apareceu bem na minha frente. Levei um susto e caí no chão, encerrando a performance pela metade.
-Olá! – disse Chrono para a plateia, usando meu microfone – Sinto muito por encerrar o show, mas essa é uma circunstância grave e necessito do vocalista da banda. Creio que isso faz parte de ser fã da banda de um mutante. Boa noite!
    Com seu tradicional terno preto, Chrono deixou o palco e foi até o camarim.
    Algo curioso sobre Chrono é que ele aparentava ter 40 e poucos anos, mas não envelhecia. Conhecíamos ele há 3 anos e ele continuava com a mesma aparência. Uma das vantagens de ser um viajante do tempo.
    Assim que ele foi ao camarim, eu o segui, furioso. Afinal, não é sempre que interrompem um show dos PsyckoManiacs, e isso não me deixou muito feliz.
-O que foi aquilo lá no palco? – exclamei
-Oi pra você também – disse Chrono
-Não estou no clima para piadas – eu disse
-Muito menos eu, Matheus. Muito menos eu – ele rebateu
    Chrono sinalizou para que Jessica se juntasse à conversa. Então, todo o resto parou. Eu, Chrono e Jessica ainda podíamos nos mover, mas as horas estavam paradas.
-O tempo está parado. Não se preocupe em abalar o seu show super importante – Chrono disse, seriamente
-O que está havendo, Chrono? – Jessica perguntou – Você está mais do que sério hoje. Está rabugento. Você não é assim
-Não sou mesmo. Mas a insensatez de vocês fez com que eu abrisse uma exceção
    Jessica tinha razão. Por mais sério que Chrono fosse, ele sempre deixava transparecer sua simpatia. Mas naquela ocasião, ele estava 100% ranzinza.
-O que houve, Chrono? – perguntei, agora mais calmo
-Nesses 3 meses, quantas vezes pensaram em Leandro? – ele perguntou
-Como? – eu disse, confuso com a pergunta
-Nesses 3 meses, quantas vezes se perguntaram por onde ele estava? Quantas vezes planejaram uma tática de batalha pro caso de uma luta surpresa? Se ele voltasse, ou melhor, quando ele voltar, o que vão fazer?
    Eu e Jessica permanecemos mudos. Não tínhamos respostas para as perguntas de Chrono.
-Aí está – ele disse – Vocês relaxaram. Se fizessem ideia da seriedade deste caso, estariam mais alertas do que nunca. Leandro pode estar longe de vocês, mas onde quer que ele esteja, está fazendo mais vítimas. E fazendo mais vítimas, ele fica mais forte
-Nossa amiga Isa explicou isso. Quando ela foi amaldiçoada, a energia dela estava passando diretamente para Leandro – eu disse
-Correto. E para quê ele faria isso? Para quê manter esse ritual: seduzir garotas jovens, para matá-las em seguida? – disse Chrono
    Imaginamos que fosse uma pergunta retórica, então esperamos pela resposta.
-Uma armadilha – Chrono prosseguiu – Leandro é um cara atraente. Não é difícil fazer uma garota cair na dele. Ele usa o charme, cria uma cantada qualquer e suga a energia das pobres coitadas, apenas para descartá-las em seguida
-E Isa? Ele se apaixonou por ela. – disse Jessica
-Ele não se apaixonou. Ele... ficou intrigado. Isabela não se jogou em cima dele como as outras garotas. O que Leandro fez com Isa é o que o gato faz com a presa: ele brincou. Isa continuava sendo a caça, mas Leandro queria prolongar. Degustar aos poucos. Mas tudo desgringolou quando vocês curaram Isa. Quando uma vítima é curada, Leandro perde parte de sua energia. Furioso, ele atacou Isa novamente. E Amy. E você, Jessica. Leandro queria atingir o seu grupo, derrubando outros.
    Me sentei e parei para analisar tudo que Chrono dizia. Tudo fazia sentido. Mas ainda haviam perguntas sem respostas. E eu pretendiam obtê-las.
-Chrono, o que Leandro é, de verdade? – perguntei
-Um ser demoníaco – Chrono respondeu – Para sobreviver, ele precisa se alimentar da energia de jovens mulheres. Quando suas vítimas são meras humanas, ele apenas se alimenta. Quando suas vítimas são mutantes, sua energia aumenta em 80%. Ele está se transformando numa ogiva nuclear ambulante. O poder que ele tem equivale a mais de 10 bombas atômicas. Entende o problema agora?
    Naquele momento entendi o que Chrono estava querendo dizer antes. Leandro é muito mais perigoso do que imaginávamos. Logo, não seriam apenas as mulheres a ter que se preocupar com ele, mas sim toda a população.
-E as garotas “zumbis”? – perguntei
-Santa bússola de ouro! Elas não são zumbis! – Chrono exclamou – Elas não comem carne, não infectam outras pessoas e só mulheres podem ser afetadas. Só mulheres que foram amaldiçoadas por Leandro. Elas são como robôs, com pele humana. Sem cérebro. Apenas controladas. Leandro as mandou à Dimensão Mágica para que impedissem você e Katheryn de achar a pedra que curava Jessica, para que ele não perdesse a energia que conseguiu com ela
-Uau. E o que a gente faz agora? – eu disse
-Nada. Não há mais nada a se fazer – Chrono respondeu
    Então, Chrono desapareceu novamente. Não fazíamos ideia do quão grave era a situação, e já não tínhamos como reverter. Deixamos com que a confiança nos subisse à cabeça, e teríamos que consertar isso. Antes que seja tarde demais.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

41- Juiz, Júri e Réu


-Começa agora o julgamento dos réus Matheus Rocha, Jessica Williams, Nathalia Silva, Lucas Costa, Allanis Rodrigues, Ana Carolina, Isabela Lisboa, Bianca Tavares e Karoline Santos. Peço que o tribunal fique em silêncio – disse a Juíza
    Exatamente 1 hora após o parto, a Juíza mandou mais soldados atrás de nós. Uma tropa muito maior do que a que eu e Katheryn vimos na floresta. Os soldados nos levaram até à Corte, para que fôssemos julgados. Aparentemente, realizar feitiços proibidos é um crime grave.
    Jessica e Jimmy foram deixados em uma sala especializada, com médicos. Mesmo assim, vigiada por guardas.
    A Dimensão toda foi mobilizada. Era a primeira vez em séculos que alguém ia contra o Conselho. Haviam pessoas com placas dizendo “Pena de morte JÁ!”. Foi tudo tão rápido que nem pudemos contratar um advogado.
-Parece que o povo está contra a gente – sussurrei para Lucas
-Jura? Achei que fosse um jeito simpático de dizer “gostamos de vocês” – ele disse, sarcasticamente
-Como a gente vai se safar dessa? – eu disse – Não temos um advogado, a população está contra a gente, e aposto que o júri também
-Espera. Acho que sei quem pode ser nossa advogada – disse Karol
-Quem? – Isa perguntou
-Nathalia. Ela é formada em direito, certo? – ela respondeu
    Nath não disse nada.
-Nath? – Bianca chamou sua atenção
-Ah... É que na verdade eu passei raspando – Nath respondeu – Não dá pra fazer faculdade de publicidade, biologia e direito, e ser ótima nas 3 áreas
-Ah, ótimo. É hoje que vou ser presa – disse Ana, batendo a cabeça na bancada
    Com isso, Nath levantou a mão para chamar a atenção da Juíza.
-Ei! Moça! Tia Juíza! – ela gritou
Meritíssima – a Juíza a corrigiu
-Ok, ok, ok, Meritíssima – Nath fez questão de enfatizar o termo – Então... Já que esses pobres coitados aqui não tem uma advogada, pensei que eu poderia fazer esse favor
    “Pobres coitados”? Depois dessa, ser preso não parecia nada.
-Você está sendo julgada. Não pode realizar a defesa – disse a Juíza
-Pelo amor de Deus! Olha só essa situação patética: estamos tão ferrados que nem temos uma defesa! Mais da metade da população está contra a gente. Pelo menos temos direito a defesa, né? – Nath argumentou
    Não sei se ficava orgulhoso pelo jeito ardiloso com o qual ela argumentava, ou se me sentia ofendido pela parte do “ferrados”.
    Depois de alguns minutos pensando, a Juíza decidiu:
-Concedido,. Nathalia Silva será a advogada dos réus – ela disse
-Isso! – Nath gritou
    A Juíza lançou um olhar de reprovação para ela.
-Desculpa, tia. Quer dizer, dona. Quer dizer, Meritíssima – Nath se corrigiu
    Parecendo estar arrependida, a Juíza revirou os olhos. Em seguida, chamou Allanis para depor. Quando Allanis foi chamada, um grupo de protestantes a vaiou. A Juíza os mandou calar a boca.
-Srta. Rodrigues, promete dizer a verdade, apenas a verdade? – disse a Juíza
-Prometo – Allanis respondeu
    Um membro do júri levantou a mão, para perguntar à Allanis. A Juíza lhe deu permissão.
-É verdade que você e seus amigos já tinham arquitetado um plano ardiloso para furar as leis da Dimensão? – disse um membro do júri
-“Arquitetado um plano ardiloso”? – disse Allanis, ofendida – Pensa que somos alguma quadrilha de serial killers? Olha só, seu filho da....
-Srta. Rodrigues! – a Juíza exclamou
    Allanis revirou os olhos e suspirou, irritada. Ela fechou os olhos por alguns segundos para se acalmar, e respondeu a pergunta novamente:
-Não, isso não é verdade
    Pelo seu tom de voz dava pra ver que ela estava se controlando bastante.
    Outro membro do júri pediu para perguntar à Allanis.
-Vocês se sentiram orgulhosos por conseguirem desrespeitar as leis? – perguntou
-Protesto! – Nath exclamou
-Negado – disse a Juíza – Srta. Rodrigues, responda a pergunta
-Orgulhosos? Não. Aliviados? Sem dúvida nenhuma – Allanis respondeu – Já tínhamos perdido muitas pessoas, não podíamos perder outra
-Mas que ultraje! Vejam isso: ela foi cúmplice em um crime e nem mesmo mostra sinais de remorso! – disse o cara que fez a pergunta
-Senhor, ponha-se em seu lugar. Cabe a mim julgar, não ao senhor – disse a Juíza, batendo o martelo
-Srta. Rodrigues, pode se sentar. Chamo agora Matheus Rocha
     Allanis voltou ao seu lugar, enquanto eu fui depor. Mais vaias. Eles faziam isso de propósito. Queriam ver a gente sair do controle, mas não sabiam que éramos espertos o suficiente para não cair na deles.
    Fiz o juramento, assim como Allanis. Logo após, o mesmo cara que fez as perguntas pra ele veio me perguntar também.
-Você sabia que o feitiço era proibido e mesmo assim o realizou. Isso significa que foi proposital. Certo?
-Protesto! Meu cliente não teve a confirmação da Meritíssima – disse Nath
-Isso não é verdade. Eu confirmei, e a resposta foi clara: “não” – disse a Juíza – Está mentindo para garantir a absolvição do seu cliente?
    O tribunal ficou em silêncio. Os olhos de Nath se arregalaram e vi lágrimas surgirem. Ela realmente queria fazer tudo certo, mas não deu. Houve um deslize. Apesar de tudo, havíamos cometido um crime. Seria difícil simplesmente nos inocentar.
    Disperso no meio daquela situação, notei que Lucas estava falando ao telefone com alguém. Ele se abaixou atrás da mesa dos réus para que a Juíza não o visse. Assim que a conversa acabou, ele se levantou. Havia um sorriso enorme em seu rosto.
-Caso encerrado – disse a Juíza – Eu considero os réus...
-Espera! – Lucas gritou – Acabei de receber uma ligação da minha esposa. Sabe o que ela disse? Nossa filha acabou de sair do coma. Não sei se todos aqui estão cientes, mas o mesmo monstro que fez isso à minha filha, quase matou a namorada do meu amigo ali. Era a única opção dele e, por amor, ele usou essa única opção. E se fosse com alguém que vocês amam? Aposto que fariam o mesmo. Mas fazem questão de se dizerem politicamente corretos. Palmas para a hipocrisia de vocês. Isso me enoja. Vocês me enojam. Por um momento, parem de ser tão falsos e hipócritas e ponham-se no lugar dele. Se, mesmo assim, quiserem nos prender, tudo bem. Mas iremos com a consciência limpa, porque temos muito mais dignidade do que todos vocês juntos
    O tribunal ficou em silêncio por alguns minutos, chocados com o discurso de Lucas. Então, a Juíza finalmente se pronunciou:
-Eu considero os réus... inocentes
    Todo o pessoal comemorou de alegria. Eu e Lucas nos cumprimentamos com um abraço.
-Pronto pra ir? – perguntei
-Sim, sim! De preferência, pra nunca mais voltar – ele disse, com um sorriso
***
    Lucas foi ao hospital assim que saímos da Dimensão Mágica. Antes de irmos lá também, passamos numa loja e compramos inúmeros balões, cartazes de “bem vinda de volta” e bichinhos de pelúcia.
    Assim que chegamos ao quarto de hospital, vimos Lucas e Julie super empolgados, conversando com a filha.
-Olha só quem acordou! – disse Nath, trazendo o enorme urso que comprou para Jenny
-“Brigada”, tia Nath – disse Jenny, ainda com a voz um pouco fraca
    Nath deu um beijo na testa de Jenny e Marcelo entregou o presente pra ela.
-Adivinha só, Jenny. Você acabou de ganhar um priminho – disse Jessica
-Isso mesmo, diga oi pro Jimmy – eu disse
-Ele é tão pequeno! – Jenny exclamou, um pouco surpresa
    Demos uma risada com o comentário de Jenny.
-Vocês são demais, pessoal – disse Lucas
-Estamos sempre juntos. Pra tudo – disse Isa
    Pela primeira vez em um bom tempo, não tínhamos preocupações. Era apenas comemoração, um momento de descontração. Pela primeira vez em um bom tempo, tínhamos paz.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

A fic terá uma pausa

     Antes que vocês possam conferir o capítulo 41, a fic "A Família Voture dará uma pausa de 3 semanas e só voltará no dia 29 de abril. Sei que isso pode parecer um pouco confuso, mas vocês vão entender melhor clicando aqui.
     Fiquem ligados nesse blog de notícias, pois lá vocês vão receber informações sobre os novos capítulos. Falta pouco para o final, então será como uma contagem regressiva. Aproveitem o tempo da pausa para relerem os capítulos mais antigos e irem matando a saudade.
     E não se esqueçam: os novos capítulos vão voltar dia 29 desse mesmo mês. Não percam!

sábado, 7 de abril de 2012

Anteriormente... #4

    Mais 10 capítulos se passaram e chegou a hora de mais um "Anteriormente...", onde você pode ver a recapitulação do que aconteceu nesses 10 capítulos mais recentes.

    Pra começar, tivemos o complicado recomeço do namoro de Jessica e Matheus. Ao pedido de Jessica, Matheus teria de preparar um jantar romântico, porém nem tudo deu certo. Jessica ficou enjoada com o cheiro das velas aromáticas, Matheus comprou um vinho novo demais e etc. No fim, Jessica revela que o que importava pra ela era apenas o namorado ter se importado em planejar o jantar. Então, o namoro deles recomeçou (com um pé esquerdo, mas recomeçou.). (Cap. 31, "Começando de Novo")

    Então, tivemos o começo de um emocionante arco de história composto por 10 capítulos (sim, 10. Isso significa que o próximo capítulo, o 41, ainda fará parte deste arco).

    Pra começar, vimos Ana, Bianca e Alice sendo vítimas de um ataque à mansão. Uma bomba explodiu e elas ficaram presas em meio aos entulhos e destroços. O pessoal todo aguardava o resgate com o coração nas mãos. Além disso, Isa deixou escapar uma informação importante sobre quando ela foi atacada. Ana e Bianca conseguiram ser salvas, mas Alice acabou decidindo se suicidar no final do capítulo. (Caps. 32 & 33, "Estrada para o Inferno"/"Degraus do Paraíso")
    Logo após o ataque a mansão, pudemos ver como foi o dia seguinte das sobreviventes. O namorado da falecida Alice quis tirar satisfações com Ana, culpando-a pela morte da namorada; Bianca e Dean tiveram problemas no relacionamento, com Bianca acusando-o de não amá-la mais. Isa desapareceu novamente, fazendo com que Matheus e Nath procurassem por ela. Assim que eles a acham, ela revela quem está por trás dos ataques. (Cap. 34, "Depois da Tempestade...")
    Durante o funeral de Alice, Matheus abre o jogo para o pessoal e revela que quem está por trás disso tudo é Leandro. Eles, então, criam um ataque-surpresa para pegá-lo, mas as coisas não saem muito bem. Jenny, filha de Lucas, é ferida gravemente durante a batalha, e o capítulo termina com Matheus sendo atacado fatalmente por Leandro. (Cap. 35, "Fim de Jogo")
    Após o ataque, Matheus acorda numa espécie de dimensão feita para os mortos, o que significava que ele morreu com o ataque de Leandro. Mas as coisas só complicam quando ele começa a se esquecer do que aconteceu na sua vida e se mete em problemas com antigos inimigos do pessoal. Apesar de toda essa confusão, no fim do capítulo é revelado que Matheus na verdade está em coma, e tudo isso não passou de uma alucinação sua. (Caps. 36 & 38, "Um Pedacinho do Paraíso (Atos I e II)")
    Intercalando os capítulos da alucinação de Matheus, é mostrado como o pessoal estava confuso após Matheus e Jenny terem ido parar no hospital. Jessica recebe uma ligação estranha de Amy. É mostrado que Amy e Leandro tiveram um caso logo após Amy terminar com Matheus. Com isso, ela foi atacada pelo vilão e ficou entre a vida e a morte. Infelizmente, Jessica não consegue salvá-la, mas descobre que tudo aquilo era uma cilada de Leandro para capturá-la. E ele consegue. (Cap. 37, "Trégua")
    Seguindo tudo isso, após Matheus acordar do coma, Jessica revela a ele que foi atacada por Leandro. Eles dois, seguidos do resto do pessoal, vão até a Dimensão Mágica, procurando por ajuda.  Para curar Jessica, seria preciso recitar um feitiço proibido, que precisaria da autorização do Conselho. Uma vez que o Conselho não os autoriza, Matheus e Katheryn - mãe de Jessica - partem em busca da pedra que pode ajudar a fazer o feitiço sem que o Conselho saiba. Katheryn se sacrifica para doar sua energia vital à filha e, logo em seguida, Ana precisa operar Jessica de última hora para ajudar seu filho a nascer. Mesmo depois de tudo isso, as coisas dão certo e o filho de Matheus e Jessica nasce: Jimmy Williams (Caps. 39 & 40, "A Cabeça de Jessica"/"O Coração de Matheus")

     Mas será que realmente deu tudo certo? Ainda há um capítulo ligado a essa história. O que será que aconteceu após Katheryn realizar o feitiço proibido? Quais serão as consequências? Fique ligado. O capítulo "Juiz, Júri e Réu" está chegando!

40- O Coração de Matheus

*Continuação do capítulo anterior


    Assim que eu e Katheryn saímos do castelo, avistamos uma floresta ao horizonte. Para agilizar a viagem, a mãe de Jessica usou um feitiço que nos deixou na entrada da floresta.
-Por que não nos deixou onde a pedra está? – perguntei
-Sou feiticeira, não vidente – ela retrucou
    Entramos na floresta e começamos a caminhar, desviando dos galhos de árvores. Conforme caminhávamos, senti que tinha pisado em algo quebradiço. Um formigueiro.
-Argh, odeio esses bichos – eu disse
-Que bichos? – disse Katheryn, que seguia distraída
-Formigas
    Quando disse isso, Katheryn parou de repente e se virou com expressão de susto.
-Essas não são simples formigas, são zemn’s – ela disse – São extremamente venenosas. Uma picada, você já era. Então corra. Corra muito!
    As formigas correram em nossa direção e nós fugimos delas. Katheryn lançou um feitiço de energia que explodia algumas, mas ainda sobraram muitas. Pra piorar, essas muitas criaram asas e vieram até nós pelo ar.
-Elas voam?! – exclamei
-Eu tenho cara de Wikipédia? – Katheryn gritou de volta
    Enquanto corríamos, avistei um pequeno lago.
-Katheryn, espera! Podemos pular ali! – apontei para o lago
    Fomos até o lago e pulamos nele, impedindo as formigas-moscas de nós pegarem. Aproveitei o momento e criei um vórtice para pulverizá-las.
-Foi por pouco – eu disse
-Tome cuidado! – Katheryn exclamou, brava
    Assim que saímos do lago, Katheryn usou um feitiço para se secar.
-Ei, e eu? – exclamei
-Se vire. Não sou babá de ninguém – ela retrucou
    Continuamos a caminhada pela floresta, esquivando dos galhos de árvores. Conforme andávamos, ouvi passos. Passos que não eram nossos.
-Espera. Ouvi algo – eu disse
-Algo? E o que seria? – disse Katheryn
    Puxei Katheryn pelo braço e nos escondemos atrás de um arbusto. Enquanto nos escondíamos, observávamos o lugar. Então, uns 30 homens de armadura passaram em frente ao nosso esconderijo.
-Quem são esses caras? – eu disse
-São os soldados do Conselho – Katheryn respondeu – Devem ter sido mandados pela Juíza para nos capturar. A partir de agora, atenção em dobro
    Assim que a frota chegou a uma boa distância da gente, saímos de trás do arbusto.
-Eles devem estar indo em direção à pedra. Temos que chegar antes deles – ela disse
-Espera... Como vamos saber onde fica esta tal pedra? – perguntei
-Segundo as lendas, ela fica numa caverna, no alto deste morro – ela respondeu
-“Segundo as lendas”? Não podemos confiar a vida de Jessica à historinhas. Se eu perder Jessica... eu perco tudo. Eu já a perdi uma vez, não quero perdê-la de novo
-Eu entendo. Sei que está sendo difícil para você, mas não iria se sentir pior se não fizéssemos nada?
    Ela estava certa. Mesmo assim, eu estava inseguro. Assustado. Minha cabeça estava completamente bagunçada com tudo que estava acontecendo. Não se pode partir um coração e esperar que ele se reconstrua novamente.
    Continuamos nossa caminhada, mas, desta vez, cortando caminho pelo oeste, na direção oposta aos soldados.
    No meio do caminho, chegamos a um rio. Do outro lado, vimos uma mulher. Ela andava de um lado para o outro, tropeçando nas folhas. Em seu braço havia uma estrela negra. Era uma vítima zumbi de Leandro.
-É melhor irmos por outro lado. Não temos tempo para cuidar disso – eu disse
    Então, outra garota zumbi saiu da floresta. E outra. Outra. Outra. E mais outra. Quando nos demos conta, havia centenas daquele lado do rio. E elas começaram a atravessar o rio.
-Merda! Vamos sair daqui – disse Katheryn
-Olha pelo lado bom: elas não mordem – eu disse
-Prefere ser pisoteado?
-Espera um pouco – eu disse, dando meia-volta
    Saquei minha katana e parti em direção às garotas-zumbi. Usei a espada pra arrancar a cabeça de algumas delas. Katheryn recitou um feitiço para abrir o peito delas e desacordá-las. Mas ainda sobraram muitas.
-Não vamos conseguir – disse Katheryn
-Ou talvez sim. Olhe – eu disse
    Um ser flamejante surgiu ateando fogo nas criaturas. Assim que todas as garotas incendiaram, a figura flamejante chegou mais perto e as chamas em seu corpo foram sumindo gradativamente até voltar a ter aparência humana. Era Lucas.
-Lucas? – exclamei, surpreso
-Vim ajudar, foi besteira discutir com você – ele disse
-Não, eu estava errado. Não devia ter te chamado de egoísta. Estamos bem?
-Sim, mas antes...
    Lucas fechou o punho e me deu um soco no rosto. Depois, apertou minha mão.
-Pronto. Agora estamos bem – ele disse
-Eca, vocês mutantes me enojam – disse Katheryn
    E continuamos a marchar até o topo da montanha. Mais ou menos 40 minutos depois, chegamos a uma caverna escura, o único ponto de referência naquele lugar. Era lá que a pedra estava.
    Assim que entrei na caverna, dei de cara com a tropa de soldados que vimos antes. Um deles segurava a pedra.
-Procurando alguma coisa? – ele disse
    Sem responder nada, saquei minha espada e cortei sua cabeça fora. Indignados, os outros soldados partiram em nossa direção. Lucas eletrocutou alguns e Katheryn pulverizou outros. Os que sobraram, tiveram o peito perfurado por minha katana.
-Não sou um cara mau. Não sou mesmo. Mas não admito que nenhum filho da puta mexa com as pessoas que amo – eu disse, olhando para os cadáveres dos soldados
    Katheryn pegou a pedra e nos levou de volta até onde Jessica e o pessoal nos esperava. Jessica já estava com a aparência horrível de quem está no último estágio.
-Rápido, está quase na hora! – disse Nath
-Deitem-na no chão – disse Katheryn ao pessoal. Depois, se virou para Jessica e disse: - Filha, querida. O que farei agora não será nada fácil. Terei de doar minha energia vital a você e seu filho. Mas não poderei seguir após isso. Você terá que se virar sem mim
-Não... Não! – disse Jessica, com lágrimas nos olhos – Eu passei a maior parte da minha vida sem você. Não posso dizer adeus agora. Eu simplesmente não posso
-Nós nunca estamos preparados para dizer adeus, mas às vezes é preciso – disse Katheryn
    Com lágrimas nos olhos, mãe e filha se abraçaram pela última vez. Em seguida, Katheryn pegou a pedra e recitou as palavras “Innera, Rezsk Onnum”. Então, o corpo da mãe de Jessica foi sumindo aos poucos, enquanto o de Jessica se renovava. Isso se seguiu até o corpo de Katheryn sumir de vez. Assim que o feitiço se encerrou, corri para abraçar Jessica.
-Que bom que você está bem! – eu disse, abraçando-a – Eu achei... Achei que não fôssemos conseguir
-É, mas conseguiu –ela deu uma pausa – Ai! Meu abdômen... Senti uma pontada
-Deve ser o bebê – disse Ana – O feitiço pode ter prejudicado a gestação. Precisaremos realizar o parto agora!
    Assim como existia uma cantora – Jessica – na Dimensão Mágica, obviamente existiam médicas também. Allanis, Isa, Bianca e Karol partiram em busca de outras médicas que pudessem ajudar Ana a fazer o parto. Elas conseguiram achar duas.
-Tá legal, precisaremos fazer uma cesariana. Façam seus truques para termos tudo que é preciso – Ana ordenou
    Jessica estava apenas nos 7 meses de gestação. Uma forte insegurança surgiu, mas eu a espantei logo. As coisas tinham que dar certo.
-Fica calma, Jessica. Vai dar tudo certo – disse Ana
    Ana e as outras duas feiticeiras, que eram cirurgiãs também, abriram a barriga de Jessica e começaram a operá-la, para salvar a vida do nosso filho.
    Quase meia-hora depois, ouvi o som. O som que trouxe lágrimas de alegria aos meus olhos: o choro do meu filho.
-Eu consegui. Eu sempre consigo – Ana deu um sorriso – Parabéns, é um menino!
    Dei um beijo em Jessica. Logo, Ana enrolou meu filho em um pano e o colocou nos braços de Jessica.
-Ele é lindo! – disse Jessica
-Assim como você – eu disse
-Que nome vão dar a ele? – Isa perguntou
-Jimmy. Jimmy Williams. É um nome bonito – eu disse
    Uma pessoa se foi. Mas uma nova vida veio ao mundo. Então é verdade aquele ditado que diz que quando Deus fecha uma porta, Ele abre uma janela.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

39- A Cabeça de Jessica

PDV da Jessica

    2 semanas se passaram desde que Leandro me atacou. 1 semana desde que Matheus se recuperou. Eu ainda não tinha contado a ele o fato de eu estar morrendo.
    O pessoal quase todo havia feito as pazes com Matheus assim que ele acordou. O “quase todo” deve-se ao fato de Lucas ainda culpar Matheus por tudo que aconteceu. Jenny ainda não havia saído do coma e só estava a piorar.
    Eu e Matheus estávamos em nossa casa. Depois do acidente da mansão, compramos outra casa para vivermos sozinhos, mas não longe do resto do pessoal.
    Enquanto preparava o almoço, senti uma pontada na barriga. Fui até o banheiro e me olhei no espelho. Não havia nada berrante, mas meus cabelos estavam ficando quebradiços. Estava começando. Eu não podia mais enrolar. Precisava contar ao Matheus.
    Fui até a sala de estar, onde Matheus estava assistindo TV, e disse a ele que precisava contar algo. Expliquei tudo que aconteceu no galpão abandonado enquanto ele estava inconsciente. Ele surtou.
-Você foi atacada há 2 semanas e não me contou nada? – ele berrou
-Eu não queria te preocupar – eu disse
-O que você estava esperando? Virar uma daquelas criaturas e morrer pra que eu soubesse?
-Na verdade, eu descobri algo. Leandro primeiro mata suas vítimas, depois seus corpos voltam à ativa. Ele pode estar usando-as como escravas. Ou seja, Jenny ressuscitou Isa quando ela foi atacada por Leandro.
    Assim que eu disse isso, os olhos de Matheus brilharam. Ele teve uma ideia.
-Ligue para o pessoal e diga para eles nos encontrarem no “LA Medical Centre” – ele disse
    Fiz como ele pediu e liguei para todos. Em seguida, Matheus me colocou em seu carro e me levou até o hospital.
-O que você vai fazer?
-Você vai ver – ele respondeu
    Ele, então, foi até o quarto de Jenny, filha de Lucas. A conversa dele com Lucas não foi nada amigável, e eu ouvi tudo do corredor.
-Preciso da ajuda de Jenny – disse Matheus – Jessica foi atacada e só Jenny pode curá-la
-Caso não tenha notado, não há nada que Jenny possa fazer – Lucas retrucou – Aliás, minha filha está em coma muito antes de você acordar e você nem fez uma visita
-Me desculpa. Me desculpa mesmo, mas isso é um caso de vida ou morte
-Jura? Não me diga! Quando foi a última vez que você veio até mim sem ser para pedir ajuda? Enquanto achava que estava tudo bem, você nem passou aqui
-Não seja tão egoísta
-Egoísta? – agora Lucas gritou – Falou o sr. Sei-me-virar-sozinho. Se ao menos tivesse me escutado, Leandro não seria problema há muito tempo
-Será que você não se cansa de ser sempre o dono da verdade?
    Seguiu-se um silêncio pelos 20 segundos seguintes. Então, pude ouvir Lucas dizer:
-Sai daqui. Sai daqui agora. Gosto muito de Jessica e até a ajudaria, se pudesse, mas não por sua causa. Agora saia
    Desapontado, Matheus saiu do quarto. O resto do pessoal começou a chegar em seguida.
-Ei, Jessica, você está bem? – disse Nath
-Não. Não mesmo. O efeito do ataque está começando a aparecer – respondi
-Argh. Essa é a pior parte – disse Isa
-Jenny não pode ajudar. Alguma ideia? – disse Matheus
-Eu tenho uma – disse Allanis
    A ideia que salvou meu dia. Allanis sugeriu que voltássemos à Dimensão Mágica. Usei a pouca força que tinha para abrir o portal que nos levava até a Dimensão.
    Assim que fomos teletransportados, senti um choque em meu corpo e tive a sensação de que eu fosse cair. Por sorte, Karol e Bianca me seguraram.
-Calma, nós te seguramos – disse Bianca
-Você não pode ficar gastando suas forças assim – disse Karol
    Meu corpo inteiro doía. Mas a pior parte era meu abdômen. Parecia que o bebê não estava simplesmente chutando, mas sim esfaqueando e rasgando todo o meu útero.
    No exato momento que pousamos na Dimensão Mágica, minha mãe, Katheryn Williams, apareceu à nossa frente.
-Mãe? O que faz aqui? – eu disse, surpresa
-Senti quando chegaram – ela respondeu – E não precisa me dizer nada, já sei de tudo. Venham, sei como resolver esse problema. Mas, antes, precisaremos falar com o Conselho
    Katheryn recitou um feitiço que nos levou até um castelo gigantesco, parecido com os castelos antigos da Terra.
-Eu nunca vi esse lugar – eu disse
-Mas é claro que não. Sou 25 anos mais velha que você. Logo, vi mais coisas
    Ela deu uma piscadela que me fez rir. Só ela conseguia me fazer sorrir numa situação daquelas.
    Entramos no enorme castelo. Lá dentro, haviam várias pessoas atarefadas, andando de um lado pro outro.
-Há um feitiço que tem efeito de cura – Katheryn explicou – Precisaríamos buscar uma pedra na floresta que ajudaria a realizar esse feitiço, porém, quando alguém usa esse feitiço, precisa doar parte de sua energia para quem precisa ser curado. Por isso, esse é um feitiço proibido e precisa da autorização do Conselho
    Katheryn me chamou para que eu fosse com ela até a sala da Juíza, que aguardava sentada em sua cadeira.
-O que desejam? – disse a Juíza
-Precisamos realizar o feitiço proibido de cura – Katheryn explicou – Minha filha está presa numa maldição que está sugando sua energia, e precisamos de sua autorização para realizá-lo
-Não – disse a Juíza, seriamente
-Escute bem, há uma vida em jogo – Katheryn aumentou o tom de voz
-Eu entendi essa parte. Mas mesmo que realize o feitiço, alguém vai morrer. Então, a resposta é não. E saiam da minha sala, estou ocupada
    Voltamos ao corredor do castelo, onde o resto do pessoal nos esperava.
-Não conseguimos, ela não nos autorizou – disse Katheryn, desapontada
-Bom, a Juíza não está aqui para nos impedir – disse Matheus – Por que não vamos até essa pedra?
-Ótimo, vamos! – disse Ana
-Não – Matheus a interrompeu – Apenas eu e Katheryn vamos. Se muitos forem, a Juíza vai dar falta
    Matheus pegou sua katana e se preparou para ir com Katheryn mas, antes, ele se aproximou para me dar um beijo. Porém, havia algo de errado naquele beijo. Parecia... um beijo de despedida.
-Boa sorte – eu disse
    Então, ele e Katheryn partiram em direção à floresta.
    Senti outra pontada em meu abdômen. A dor agora estava insuportável. Alguns minutos depois, a dor se espalhou para minha coluna e o resto dos meus ossos. Soltei um gemido de dor.
-Calma, eles vão voltar logo – disse Bianca
-Amém! – eu disse, sarcasticamente
    De repente, a porta da sala da Juíza se abriu, e vários homens de armadura saíram da sala junto à Juíza.
-Quem são esses homens? – perguntei
-Não tente me fazer de boba – ela disse, seriamente
-Eu, te fazer de boba? Nunca! – falei da maneira mais sarcástica possível
-Já sei que seus amigos foram para a floresta. E esses homens serão encarregados de caçá-los e matá-los, se for preciso
    Ah, não.

Fim do PDV da Jessica

CONTINUA...