segunda-feira, 14 de maio de 2012

47- Como Salvar Uma Vida (O Evento Musical)

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PDV da Allanis

    Abri os olhos. Eu estava em um hospital. Não em um quarto de hospital, em um corredor. E também não estava em uma maca. Eu estava deitada no chão. O que estava acontecendo?
    Me levantei e me aproximei de uma senhora idosa, procurando informações.
-Senhora, poderia me responder onde estou? – perguntei
    Mas a senhora não me respondeu. Na verdade, ela nem sequer olhava nos meus olhos.
-Tomara que morra, sua mal-educada! – gritei, mal-humorada
    Todos que passavam pelo corredor me ignoravam. Era como se eles não me vissem.
    De repente, um grupo de médicos correu até a porta do hospital. Parecia que eles iriam atender a uma emergência.
    Minutos depois, a porta do hospital se abriu e Ana entrou no hospital.
-Homem, 27 anos, baleado no abdômen, com possível hemorragia interna – ela disse – Mulher, 29 anos, baleada no tórax. A bala pode ter perfurado o pulmão. Será necessário um raio-x para ambos
    Dois paramédicos entraram com Nath e Lucas sendo trazidos em macas. Em seguida, Bianca chegou trazendo mais uma maca e Ana prosseguiu com a descrição da paciente que Bianca trazia.
-Mulher, 28 anos, possíveis fraturas na coluna, no braço esquerdo, perna direita e clavícula. Também tem possível hemorragia interna e traumatismo craniano.
    Não pude evitar o susto que levei ao ver que a terceira paciente era... eu mesma. Foi aí que entendi por que a senhora não estava me vendo. Ninguém estava me vendo.
-Pattison foi buscar os pais de vocês, ele não vai demorar. Apenas aguentem – disse Ana, se direcionando a Lucas, Nath e eu
    Me sentei em cima da maca em que meu corpo estava e comecei a cantar “Fuckin’ Perfect”, da Pink. Eu não sabia o por quê. Talvez porque naquele momento eu me sentia um lixo, acabada. Simplesmente não conseguia me impedir de cantar.
    Andei até as macas de Nath e Lucas, e coloquei minhas mãos sobre as deles enquanto eu cantava. Eles pareciam assustados. Cantei para eles, mesmo sabendo que eles não me ouviam.
-Vocês são perfeitos, para mim – eu disse
    Os médicos, então, levaram suas macas para dentro do hospital. Incluindo a minha.
    A porta do hospital se abriu novamente. Bianca entrou pelo corredor, acompanhada por Matheus, Jessica, Karol e Isa. Pattison chegou logo após, trazendo meus pais, os pais de Nath e a mãe de Lucas.
    Um policial acompanhou Isa até a sala de espera. Eu os segui.
-Você está bem? – o policial perguntou
-Talvez só um pouco assustada – Isa respondeu
-Já vi muitos casos bizarros, mas esse é, de longe, o vencedor. Você deve estar mais do que “só um pouco assustada”. O que você mais precisa nesse momento é de companhia
-Obrigada – ela deu um sorriso tímido – Você é tão gentil comigo e eu nem perguntei seu nome
-Philip – disse o policial
-Isabela, mas pode me chamar de Isa
    Os dois trocaram um olhar e se calaram. Depois de alguns minutos em silêncio, Philip puxou Isa mais pra perto e beijou sua boca.
-Eu posso fazer mais do que só “fazer companhia” – disse Philip
-Hã... ok – disse Isa, dando um risinho
    O lugar todo escureceu. Os únicos que sobraram foram Isa... e Leandro. Foi quando percebi que havia algo errado. Eu não estava vendo as coisas como eram de verdade. Realidade e alucinação estavam se fundindo.
    Isa e Leandro estavam de costas um para o outro e cantavam um dueto de “Somebody That I Used To Know”, do Gotye e Kimbra. Em nenhum momento do dueto os dois se olharam.
    Percebi o que estava acontecendo. Isa estava finalmente seguindo em frente e agora, para ela, Leandro era “apenas alguém que ela conhecia”. Philip era o seu final feliz.
***
    Voltei à sala de espera e me sentei ao lado de Matheus e Jessica – não que eles pudessem me ver mesmo.
-Ele ia te matar – disse Jessica, que estava em estado de choque
-Não, ele não ia – disse Matheus, acariciando o cabelo da namorada
-Eu não sei o que faria se ele te matasse. Não me deixa sozinha, ok?
    E outra alucinação começou: Jessica começou a cantar os primeiros versos de “No Air”, dueto de Jordin Sparks e Chris Brown. Matheus a acompanhou a partir do refrão. Os dois estavam tão felizes, tão apaixonados... Era bom ver que em meio a toda aquela tragédia, alguém estava feliz.
    Matheus pegou Jessica pela mão e lhe deu um beijo.
-Eu não vou te deixar. Quem é que vai me ajudar a atravessar a rua quando eu estiver velho e caquético? – ele brincou –Vou ver como o Lucas está, já volto
    No quarto de Lucas estavam sua mãe, Julie e Jenny, fazendo companhia. Elas se retiraram para que os amigos pudessem conversar.
-Disseram que a bala não causou nenhum dano grave. Vou entrar em cirurgia daqui a pouco – disse Lucas
-Hã... Ótimo – disse Matheus, um pouco distraído
-E Allanis? Como ela está?
-Disseram que ela está muito machucada
-Mas ela vai sobreviver? Ela tem que sobreviver. Allanis é como uma irmã pra mim, a irmã que eu nunca tive
-Eu vou ver como ela está
    Matheus saiu da sala. Lucas começou a cantar “Never Too Late”, do Three Days Grace. Enquanto ele cantava os versos deitado em sua cama, Matheus cantava o refrão andando pelos corredores. Ele não estava indo me ver, estava indo se esconder.
    Ele foi até a escadaria e começou a chutar o corrimão enquanto cantava. Então, se sentou em um degrau e passou a mão na cabeça.
    Ainda faltava conferir como uma certa pessoa estava: Pattison. Eu sabia exatamente onde ele estava: no meu quarto.
-Você vai sair dessa – ele dizia – Eu sei que vai. Você é uma batalhadora
    Era estranho ver meu corpo ali, naquela cama de hospital. Era como se eu fosse outra pessoa. Mais estranho ainda era estar no mesmo quarto que Pattison e não poder tocá-lo.
    Comecei a cantar “Iris”, dos Goo Goo Dolls. “Eu desistiria da eternidade só para tocá-lo”, essa era a frase que descrevia o que eu sentia. Como parte da minha alucinação, Patt me acompanhou a partir do 2º verso, num dueto.
    Assim que acabamos nosso dueto, os aparelhos que se ligavam ao meu corpo começaram a apitar. Ana e alguns médicos entraram correndo no quarto.
-Ela está tendo uma convulsão! – disse um médico
-Ah, não. O que está havendo? – disse Ana – Tem mais alguma coisa aí
    Eu sabia o que era. Mas parte de mim desejava que não fosse verdade.
    Voltei à sala de espera. Estavam todos discutindo, por minha causa.
-Ela estava desesperada lá na galeria. O que havia de errado? Ela não é assim – disse Matheus
-Mas é claro que ela estava desesperada, ela podia morrer! – disse Isa
-Ela já passou por situações piores e nunca teve uma crise nervosa. Tem algo que não sabemos – Matheus respondeu
    Pattison, então, se juntou a eles. Senti um remorso ao vê-lo. Eu devia ter contado antes. Ele não devia saber daquele jeito.
    Ana chegou à sala de espera com uns exames em mãos.
-Bom, Allanis teve problemas sérios... – disse Ana
-Por favor, fale com a gente como Ana, não como Dra. Martins – disse Bianca
    Ela respirou fundo e disse:
-Allanis estava grávida. O feto está causando complicações, mais do que ela já tem
-“Estava”? – Pattison perguntou
-O feto não sobreviveu aos ataques. Allanis sofreu um aborto – disse Ana

CONTINUA...

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