terça-feira, 15 de maio de 2012

48- Olá, Mundo Cruel

*Continuação do capítulo anterior

    Definitivamente estressada, Ana jogou minha ficha numa mesa e deixou a sala de espera. Pattison desabou em lágrimas instantaneamente.
-Sinto muito – disse Isa, passando a mão nas costas de Pattison
    Eu não podia assistir aquilo. Saí da sala de espera. Ao me virar, dei de cara com um corredor escuro. Não tinha como saber se aquilo era verdade ou não, então segui pelo corredor. Uma luz surgiu. Seria essa a tal luz no fim do túnel?
    Cheguei ao fim do corredor. O que encontrei: a mansão. E mais algumas pessoas. Na sala de estar estavam Alice, Amy, Katheryn, Leticia, Walter e James, um ex-namorado.
-Eu morri? – perguntei
-Talvez sim – Amy respondeu
-Talvez não – Leticia completou
-Bom... Todos vocês estão mortos – eu disse – A mansão tecnicamente está “morta” também. Eu diria que isso aqui é o Céu, mas se o James está aqui, acho que é o inferno
-Ha-ha. Muito engraçado – disse James – Acontece que aqui é a sua cabeça, seu subconsciente
    Fazia sentido. Afinal, todos aqueles números musicais foram fruto da minha cabeça. Isso também era.
-Não é nessa hora que a gente faz um número musical emocionante? – brinquei
-Aquela foi uma fase. E ela já passou – disse Alice, que não estava na cadeira de rodas
-Ah, que bom. Isso é bom, né?
-Não, não é – Katheryn respondeu – Isso significa que você está mais próxima da morte

Fim do PDV da Allanis

    Continuávamos na sala de espera, sem nada pra fazer a não ser esperar por resultados de Allanis, Lucas e Nath.
    A porta do hospital se abriu e Dean veio falar conosco – mais especificamente, com Bianca.
-Você está bem? – ele perguntou
-Sobrevivendo, como sempre – Bianca brincou
-Olha, Bianca, eu preciso falar algo importante com você
    Dean colocou a mão no bolso e Bianca arregalou os olhos instantaneamente.
-Ai, meu Deus! Você vai me pedir em casamento? – ela disse, radiante
-O quê? Não! Eu estava pegando dinheiro pra comprar um lanche. Por que achou isso? – perguntou
-Hã... Em filmes, é nessa hora que as pessoas se casam
-Não, não. O que eu ia dizer era que eu ganhei uma proposta de emprego. Na Suíça. Eu sei que fica longe, mas...
-Ok, eu aceito. Se for pra gente ficar junto, tudo bem!
    Bianca deu uns pulinhos e depois beijou Dean no meio da sala de espera. Nós todos fomos parabenizá-los, e também nos despedir.
-Consegue ficar longe de problemas sem mim, maninha? – Dean perguntou a Jessica
-Vai ser difícil, mas acho que consigo – ela sorriu
    Enquanto todos conversavam sobre a despedida de Bianca e Dean, Karol acenou para que eu e ela conversássemos a sós.
-Seja sincero, Matheus – ela disse – Você acha que eu sou mesmo “a inútil” do pessoal? Todos esses anos junto a vocês e enquanto vocês agiam, eu ficava parada. Uns dias atrás, a Gangue F veio me atacar no trabalho. Mas eles não me queriam. Eles queriam você. Nem pra ser alvo eu sirvo! Eu consegui matar eles, mas eu não consigo tirar isso da cabeça
-Você ouviu o que acabou de dizer? Você matou a Gangue F! – eu disse – Você fez o que nenhum de nós conseguiu fazer. Olha, você não é uma inútil, Karol. Você é humana. Isso é perfeição. Não tem nenhum ser maligno atrás de você ou da sua família e isso é incrível. Fique feliz por isso
-Valeu. Até que ser “a inútil” tem suas vantagens – ela brincou
    Um grupo de médicos – Ana incluída – passou correndo pela gente para atender uma emergência. Allanis e Lucas tinham acabado de ir pra cirurgia, então era Nath quem estava com problemas. Eu os segui para ver o que estava acontecendo. Nath estava tendo problemas para respirar por causa do tiro.
-Não dá pra esperar mais, ela precisa de uma cirurgia – disse Ana – Mas não tem nenhuma SO disponível
-Vamos ter de operá-la aqui mesmo, no quarto – disse outro médico
-Busquem todos os materiais necessários e os esterilizem – Ana ordenou
    Os médicos saíram do quarto para buscar o que Ana pediu, e eu entrei no quarto.
-Eu nem deveria operá-la, meu chefe proibiu, já que somos conhecidas, mas é uma emergência – disse Ana, desesperada – Não sei se consigo. Não sei se posso fazer isso
-Você vai conseguir – eu disse – Você sempre consegue, lembra? Jimmy está vivo por sua causa. Eu tenho um filho por sua causa. E Eric e Cecília terão uma mãe por sua causa. Eu sei disso
-Isso é tão bonitinho... – disse Nath, que ainda estava acordada
-Trata de ficar viva, sua safada –Ana brincou
    O motivo de eu estar “rondando” pelo hospital era que eu queria, precisava, esvaziar a cabeça. Três dos meus melhores amigos estavam à beira da morte. Eu disse a um deles que verificaria sua amiga, que também estava morrendo. Eu apenas queria tirar a morte iminente deles da minha mente.
    O céu estava desabando. Em minha cabeça.

PDV da Allanis

-Isso tudo é culpa sua! – gritei, apontando para Walter
-Culpa minha? Eu estava tentando honrar minha família! – ele se defendeu
-Destruindo a minha família? Esse era o meu primeiro filho! Você destruiu a minha família! – gritei mais
    Pulei na direção dele, tentando estrangulá-lo, mas ele sumiu. Todos sumiram. No lugar deles, apareceu Matheus.
-Você está morto? – perguntei
-Não – ele respondeu
-Bom, logo eu estarei – eu disse – Pra quê voltar? Sabia que eu ia dar uma festa? Pro bebê. Eu e Pattison estávamos tentando a 8 meses. Os médicos disseram que eu tinha 3% de chance de engravidar. 3%! Eu estava tão feliz... Eu não vou voltar. Eu desisto
-Você não pode desistir. Você é a garota que destruiu dois seres sobrenaturais que ameaçaram o pessoal. Você é a garota que ajudou uma desconhecida a ter um bebê. Você é a garota que se casou no dia de uma reunião de trabalho, na hora da reunião. E... Você é Allanis Rodrigues, e não desiste. Existem amigos e um marido que te amam e estão à sua espera. Seja a batalhadora que você sempre foi e saia dessa mansão
   Matheus estendeu o braço em direção à porta, indicando que eu devia sair. Corri até a porta e tentei abri-la, mas estava trancada. Voltei até a cozinha e peguei uma faca para quebrar a porta e liberar a saída
-Vá –disse o Matheus-alucinação
    E então... saí da mansão

Fim do PDV da Allanis

    As cirurgias acabaram. Lucas e Nath estavam bem, mas Allanis... devido aos traumas no cérebro, ela poderia não acordar nunca mais.
    Estávamos todos reunidos no quarto dela, esperando por um sinal.
-Será que ela vai acordar? – disse Lucas, na cadeira de rodas, ainda se recuperando
-Ela tem que acordar- disse Nath, também na cadeira de rodas
-Talvez seja melhor esperar lá fora – disse Ana
    Quando íamos sair do quarto, ouvimos uma voz. A voz de Allanis.
-Eu ia fazer uma festa – ela dizia
    Pattison correu até Allanis e, gentilmente, a abraçou. Ambos choravam.
-Eu ia contar. Eu ia contar depois da conferência. Me desculpa – disse Allanis
-Não se desculpe. Você está viva, isso é o que importa – disse Pattison – Eu te amo

Mais tarde...

    Depois desse dia cansativo, eu e Jessica finalmente pudemos voltar pra casa. Dispensei a babá e passei no quarto de Jimmy e o peguei no colo.
-Ei, o papai tá aqui – eu disse – Sabe, hoje foi um dia difícil, difícil mesmo. Pensei que fosse perder amigos. Pensei que fosse te perder. Eu não posso te perder. Bom, eu estou aqui agora
    Tentei me controlar o dia inteiro, mas não aguentei e comecei a chorar. O dia inteiro cheguei perto, mas me segurei. Até que chegou a hora que me sobrecarreguei.
    Allanis estava tentando por 8 meses, e perdeu o bebê. Ao pegar Jimmy no colo, comecei a chorar. Cheguei perto de perdê-lo, mas isso não aconteceu. O dia inteiro refleti sobre isso.
    Em seguida, Jessica entrou no quarto de Jimmy e enxugou minhas lágrimas.
-Nós estamos aqui, Jimmy – ela disse
    Jessica beijou a testa de Jimmy e colocou os braços embaixo dos meus, para segurá-lo junto comigo.
-É, nós estamos aqui, Jimmy – eu disse

Nenhum comentário:

Postar um comentário